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A Moral, Paixão e Razão, segundo o Iluminista David Hume

Or. Jaraguá do Sul, 15 de julho de 2018.

Essa peça tem como base a filosofia empírica de David Hume, filósofo escocês, nascido em Edimburgo em 1711, onde faleceu em 1776, e foi influenciado por Descartes e Locke, dois outros filósofos iluministas, representantes do empirismo,  e seus precursores.

A Paixão e a Razão são temas de debate da Maçonaria, pelo menos daqueles que se preocupam com o estudo da filosofia, com a interpretação dos símbolos e sua real aplicação na sociedade pelo exemplo de suas ações, que é o objetivo do construtor social. Debate-se ou estuda-se, melhor dizendo, o uso da razão, que deve se sobrepor à paixão, expressa no telhamento, quando respondemos ao que viemos ali fazer: “Vencer minhas paixões, submeter minhas vontades e fazer novos progressos na Maçonaria”. Essa resposta é dada em todos os telhamentos dos ritos de origem francesa, pelo menos, que já foram, sem dúvidas, desde sua origem, influenciados pelo Iluminismo, empírico ou racionalista, na busca da Verdade a que nos propusemos. Essa verdade é justamente o significado do simbolismo, ou a revelação das virtudes inerentes a cada alegoria.

O Empirismo, escola da qual Hume foi prócer, afirmava que o conhecimento viria da experiência vivida e do que se aprende do mundo externo, usando os sentidos e pela introspecção, avaliação do mundo subjetivo, descartando as afirmativas reveladas pelo misticismo ou baseados em suposições a priori (a princípio), mesmo quando aparentemente lógicas.

No seu livro, Tratado da Natureza Humana, talvez sua maior obra, dividida em três tomos, Livro do Entendimento, Livro das Paixões e Livro da Moral, ensina que as paixões ou sentimentos, advêm das ideias e das impressões.  Essas impressões dividem-se em impressões originais vindas dos sentidos, e as secundárias, consequencias das originais.

As impressões originais são internas, primitivas, sentimentos inatos ao físico humano, que geram dores ou prazeres e sempre se renovam. As paixões são secundárias, posto que se derivam da percepção, do que se vê, do que se sabe, da incerteza, e Hume as classificam como diretas (o pesar ou sofrimento, medo, desejo, alegria, aversão), que são as primeiras reações,  ou indiretas (amor, ódio, orgulho, humildade) resultantes das diretas, ou seja, as consequencias daquelas.

Para Hume, a Moral não nasce da Razão, mas da Paixão, porque as decisões morais afetam as ações humanas, ao passo que a razão não as afeta. Afirma que as ações de um individuo são afetadas somente quando o objeto dessa ação é de seu interesse, ou seja, é moral aquilo que me agrada, com o que simpatizo ou imoral aquilo que me prejudica, me causa dor. Se não for de seu interesse, não é moral, ou pouco importa se é ou não.  E só se interessa por aquilo que lhe cause dor ou prazer.

Explica-se. A moral é o que me agrada, e me agrada o que me dá prazer. Ele acreditava ainda que a Razão deveria servir para organizar ou encaminhar as paixões, ou seja, ser sua “escrava”.

Fácil exemplificar, é imoral falar mal de uma pessoa, ainda mais desconhecida ou de fora de seu circulo de amigos ou familiares. Mas, se eu falo mal de um político e vc simpatizar com a ideia, você considera uma atitude moralmente aceita, ainda que eu esteja caluniando, injuriando ou difamando esse político. Todavia, se ele for da sua simpatia, vai me considerar imoral pela difamação, injúria ou calúnia.

Como a moral, portanto, tem uma influência sobre as ações e os afetos, segue-se que não pode ser derivada da razão, porque a razão sozinha, como já provamos, nunca poderia ter tal influência. A moral desperta paixões, e produz ou impede ações. A razão por si só, é inteiramente impotente quanto a esse aspecto. As regras da moral, portanto, não são conclusões de nossa razão. (Hume, 2001, p.497) Tratado da natureza humana: uma tentativa de introduzir o método, in http://www.consciencia.org/david-hume-e-o-entendimento-humano-em-relacao-a-moral

A experiência vivida pelo individuo é que fará a diferença de avaliação moral. Há paixão no julgamento de um e na avaliação do outro, não há Razão.

Se usar a Razão não vai injuriar, caluniar ou difamar, mas analisar os pontos prós e os pontos contra, e deixar a dúvida sobre a sentença para que a Justiça ou cada individuo julgue a questão.  Por isso, a moral é determinada pela paixão e causa os conflitos, porque cada um tem uma bagagem, uma experiência vivida para formar suas ideias e sentimentos.

Na Maçonaria, encontramos pontos em comum com o Empirismo de Hume, quando se fala em Moral, Paixão e Razão. O rito Moderno prega o uso da Razão, também entendido como senso comum aqui, como meio de pacificação entre os indivíduos e de lógica para se atingir o conhecimento ou a Verdade. Usa-se, nele, o método científico da experimentação, da percepção pesquisa do conhecimento já obtido, abrindo-se mão dos conhecimentos ou Verdades absolutas, advindos do misticismo ou de deduções principiológicas. O entendimento das virtudes a serem postas em prática pela sociedade, através do exemplo do maçom, são obtidas pelo estudo racional do que é conhecido e do que se pesquisa e não do “conhecimento místico” ou partido de um princípio esotérico ou mesmo lógico, que não seja comprovado.

Mas estariam os homens, ainda que iniciados, prontos para o uso da Razão? Não! Nem de longe. Somos pura paixão e, ainda que tenhamos como princípio virmos à Maçonaria aprender a dominar as paixões, mostra-se que elas ainda nos dominam. Estamos presos a tradições, usos e costumes dos tempos pré-iluministas, da era do obscurantismo, temos medo da punição divina e nos escondemos atrás de livros religiosos para compensar nosso atrevimento em sermos iniciados em uma ordem “profana” aos olhos daqueles que pregam a Verdade Absoluta a partir do desconhecido.

Seguindo o mestre Hume ainda, as paixões são motivadas pela dor ou pelo prazer que sentimos, e um desses prazeres (ou dor) é a Vaidade. Ela principia a paixão, assim como o ódio, o amor, o apego à materialidade (cargos, títulos, graus em alta numeração). Estamos ligados por demais a esses prazeres e dores.

Conclui-se, então, que o domínio das paixões está no conhecimento das virtudes, que são sentimentos que geram prazer em igual ou maior intensidade do que os prazeres advindos dos vícios, que deveriam causar somente dores. Ao ensinarmos a uma criança esses valores, das virtudes, estamos educando-a a vencer os vícios.

A paixão é inevitável, posto que tem origem em nossos sentidos, portanto, o papel do individuo é vencer a paixão na medida do possível, do conhecimento sobre as virtudes, e praticá-la, experimentá-la, vivenciá-la e assim nos acostumarmos a ela.

Essa é a aplicação da Razão como serva da paixão, conduzi-la para que seja lastreada nas virtudes.

E desta forma, construímos uma nova moral, papel que cabe à Maçonaria estar à frente, ou seja, dos maçons, que aprenderam a dominar suas paixões com a razão e evidenciarem as virtudes como padrão de comportamento.

Se não for esse o papel da Maçonaria, então, temos que retornar ao início da caminhada e novamente pedir a Luz.

 

Marco Antonio Piva de Lima
MI – g. 9
ARLS Fraternidade Acadêmica Ciência e Artes, 3685, RM
Jaraguá do Sul – SC

Ir. A.'.E.'.

M.'.M.'. e colaborador do Portal Rito Moderno Brasil

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