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Não deixemos a Maçonaria ruir

Laicismo no Brasil e na Maçonaria – Um paralelo

Junho de 2018.

Esse é um tema polêmico no Brasil, em geral, particularmente na Maçonaria.

A forte influência religiosa (católica, protestante, evangélica pentecostal) na cultura pátria leva à cegueira para o progresso e o futuro que merecemos em vista do fanatismo  que nada mais é que o radicalismo em defesa de uma ideia que nos é imposta, pré-concebida.  Esse progresso necessita da quebra de tabus, do abandono a preconceitos criados pelas religiões, pelos maus costumes, pelo conservadorismo arcaico. Necessita, por outro lado, do amor à ética, da retidão, da Justiça medida com o Compasso e o Esquadro.  Sem isso, nosso país, mergulhará, cada vez mais, no mundo da obscuridade em relação ao conhecimento e progresso do próprio povo. E nós maçons fazemos parte desse povo, não se enganem.

A laicidade é uma condição básica para que a Razão prevaleça e possamos desenvolver as ciências e as artes, sem nenhum constrangimento, sem medos, sem que as personalidades e talentos sofram pressões das famílias, dos párocos, da sociedade em geral e busquem sem medo pela Verdade.  As ciências e as artes são bases sólidas do conhecimento e progresso humanos, sabemos disso.

Os argumentos contrários são frágeis. Tanto a educação, como a política, necessitam a liberdade absoluta de consciência, em relação às crenças  para seu desenvolvimento, e, da mesma forma, por consequencia, a Maçonaria, para buscar bons resultados. 

Temos que debater, todos nós, os maçons teístas, deístas, agnósticos, sobre os temas que nos interessam de forma comum, a vida, a política, a sociedade e não no que cremos ou deixamos de crer. Isso pertence a cada um, e é problema só do individuo,  pois ninguém tem a capacidade ou autoridade de cobrar, exigir ou corrigir qualquer pensamento ou crença em algo abstrato.  Somente ignorantes se arvoram a esse direito.

 Não se trata de ser contra a religiosidade simplesmente, respeitamos irmãos de ritos que têm outras formas de interpretá-los, embora sabendo que nenhum, em sua origem, se diz religioso, mas sim de ser a favor da liberdade absoluta de pensamento, campo da tolerância que tanto se comenta, para que possamos conviver pacificamente.  Na mesma mesa devem se sentar todos aqueles que pensam de forma diferente e defenderem suas ideias, seus pontos de vista em relação às questões que nos afligem, estando todos sob a Luz do conhecimento adquirido na Maçonaria, porém, sem radicalismos.     

Quanto mais se radicaliza, maior a possibilidade de conflitos.  Quanto maior a segregação proposta por líderes de diversas religiões, pior será nosso futuro, e nós, maçons, como sociedade organizada, não podemos continuar a virar as costas para essas questões também, sem nos deixar envolver pelas paixões pessoais. Devemos lutar pela liberdade de pensamento, pelo laicismo político e social, a fim de que encontremos a paz, mesmo com diferenças de crenças, porque ela traz o bem comum.  O Brasil carece do laicismo que está nas leis, mas não se cumpre, a  maçonaria também, papel, hoje, cumprido apenas pelo rito Moderno, talvez.

O pior é, na sociedade, é todos se acharem certos, os donos da palavra de Deus, ou seus procuradores, e pior ainda, dentro de um círculo como a Maçonaria, onde deveriam estar homens “livres e de bons costumes”, homens iluminados, que não veem aqui para se formarem, mas para se aperfeiçoarem. A presença da Bíblia não dá autoridade a ninguém de cobrança a que todos os demais maçons se ajoelhem diante dela. Deve ser uma opção.

Esses radicais, seja na sociedade em geral, seja dentro da Maçonaria, não passam de enganadores, manipuladores dos ignorantes. O dogmatismo só é possível havendo em uma das pontas da relação, o ignorante. O verdadeiro maçom, como o verdadeiro religioso, traz a palavra de concórdia, de conhecimento, não da intolerância, do sectarismo. Aceita que ele não é único e muito menos conhecedor da Verdade Absoluta, mas sim um buscador.

Nas escolas, onde formamos os cidadãos do futuro,  na mídia, nos equipamentos públicos em geral, lugares comuns, assim como em Lojas Maçônicas, há que se ter total liberdade, não se expondo ou pregando nenhuma religião ou símbolo que se refira a uma em particular. São  locais onde transitam todos os pensamentos ou, falta deles até. Por isso, deve-se respeitar a liberdade de escolha e busca de cada um.

Fé, ou crença, é um atributo intimo de cada ser humano, e deve ser respeitado, mesmo porque ninguém conhece nada sobre Deus, sobre o futuro após a morte ou coisa parecida. Como exigir algo que nãos e tem conhecimento? Só se faz isso com base na superstição.

Da mesma forma no que se refere a partidos políticos, preferências ou crenças em doutrinas políticas devem ser respeitadas, podendo ser discutidas no foro adequado, que são os partidos políticos, que todos nós deveríamos ter um e assim participarmos das soluções políticas do país. Esse seria um bom exemplo dos maçons para a sociedade, participar política e socialmente, mas nas Lojas, levar a sua imparcialidade, sua tolerância com o pensamento alheio. Sentarmos lado a lado como irmãos e ali, aprendermos aquilo que nos propusemos na Iniciação e cultuar a fraternidade. Assim, facilitaria a vida comum fora dos templos, mesmo estando um vestindo uma camisa partidária e outro, uma diferente.

Cada cidadão deve praticar uma religião, ou não, e optar por um pensamento político também, mas a sua escolha é livre e será sempre baseada em seu próprio conhecimento e sua história., em suas crenças, suas afinidades, seus objetivos.

A igreja (todas elas) está separada do Estado desde a constituição de 1891, portanto, não é novidade a questão da fé ser de livre escolha de cada cidadão no Brasil, então, por que, se pergunta, trazê-la para dentro da Maçonaria ou mesmo da escola ou outros locais de convívio comum?   Novidade seria respeitarmos a Constituição e ter o laicismo como um princípio de verdade, como uma premissa, em todos os campos possíveis.

Outra questão é alegar que a maioria é cristã ou que a maioria dos ritos são teístas e sempre foi assim. Mentira! Nem sempre foi assim, ou de outro jeito definido, sempre foi misturado, sempre foi debatido, sempre foi controverso.  E também, não vivemos sob a ditadura da maioria ou de minorias, e sim em uma democracia, onde devemos, cada um,  viver a seu modo, respeitando o que é comum, e a isso chamamos de moral. Para justificar essas imposições, tanto na sociedade como na Maçonaria, costuma-se apontar para  a tradição, o velho costume.

Tradições podem mudar porque os tempos mudam, a cultura muda, evolui, mesmo sem nossas aprovações e vemos isso todos os dias. A Maçonaria foi criada em um tempo longínquo, de cultura diferente, de povos diferentes, e, só podemos honrá-los, mantendo os rituais, ou seja, as cerimônias ritualísticas o mais próximo daqueles tempos o possível, mas não podemos viver como eles, não podemos viver também com a hipocrisia de querer fazer de uma Loja Maçônica um templo religioso enquanto os verdadeiros templos religiosos, as igrejas, estão vazios ou cheios de surdos que escutam, mas não ouvem.

 Apontando, na conclusão, para o presente e futuro, crê-se que, ao invés de aulas de religião nas escolas, necessitamos de aulas de cidadania, de empreendedorismo, de ética, enfim, tantos valores que nos faltam e eles não precisam ser ditados por uma religião. Na Maçonaria, necessitamos exercer finalmente a tolerância de ideias, da aceitação de que os homens são diferentes, porém, todos podem ser úteis à sociedade, independente do que creem, onde juram, onde oram. Isso é o laicismo, uma corrente de pensamento independente das crenças de cada um e afirma que podemos conviver com essas diferentes crenças colocando o bem coletivo em primeiro plano.

 

Marco Antonio Piva de Lima

MI –  9 .´.

ARLS Fraternidade Acadêmica Ciência e Artes, 3685

Rito Moderno

Jaraguá do Sul – SC

 

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