Você está visualizando atualmente Influência do Positivismo na Maçonaria Francesa

Influência do Positivismo na Maçonaria Francesa

 

Arthur Aveline

 

  1. A introdução da Maçonaria na França 
  1. O surgimento do Positivismo e sua influência nos ideais maçônicos 
  1. A Reforma Doutrinária de 1877
  1. A Maçonaria Francesa no Brasil e no Rio Grande do Sul

 

  1. A Introdução da Maçonaria na França

A Franco-Maçonaria especulativa foi implementada na França a partir de 1725, levada principalmente por emigrantes britânicos exilados por razões políticas ou religiosas.       Eles trouxeram nas suas bagagens o ritual de 1717, usado pela Grande Loja de Londres, o Ritual dos Modernos, como passou a ser chamado a partir de 1751, quando foi criada na Inglaterra, em York, uma nova Grande Loja que reivindicou para si o título de Antiga. Durante o século XVII a Ordem Maçônica, a partir de Paris, foi introduzida e desenvolveu-se nas grandes cidades do interior do país. A Maçonaria Francesa esteve, desde o seu início, imbuída de um espírito crítico e científico, em oposição ao dogmatismo e ao obscurantismo da época, em clara discordância com a Maçonaria dos Antigos, lastreada no anglicanismo britânico, que entende a maçonaria como um culto destinado a preservar e a propagar a crença na existência de Deus, além de auxiliar o maçom a ordenar e pautar sua vida de acordo com sua crença religiosa, que deve ser monoteísta. A partir de 1735 era grande o número de lojas maçônicas na França, fazendo surgir a necessidade de nomeação de um Grão-Mestre, iniciando-se o processo de formação de uma Potência Maçônica, segundo o modelo inglês, inventado pelos maçons de Londres, em 1717. Em 1738 é realizada uma Assembléia Geral dos maçons, na qual é conferido ao duque D’Antin (Louis Pardaillon de Gondrin) o título de “Grão-Mestre Geral e Perpétuo dos Maçons do Reino da França”, constituindo-se assim, de fato, a Grande Loja da França, embora essa denominação só aparecesse oficialmente em 1765.

Com a morte do duque D’Antin, em 1743, assume o Grão-Mestrado o conde de Clermont (Louis de Bourbon Condé), fato que trouxe graves conseqüências para a maçonaria francesa, já que o conde não se interessava muito pelas práticas maçônicas, colocando em seu lugar prepostos que exerciam o poder e levou ao fracionamento da Grande Loja da França. Em 1766, na tradicional comemoração ao solstício de verão, em 27 de dezembro daquele ano, membros excluídos em conseqüência das rixas internas forçaram sua entrada no local onde se realizavam os trabalhos, causando extraordinário tumulto. Foi necessária intervenção policial para restabelecer a ordem e as reuniões maçônicas foram proibidas por tempo indeterminado, fato que acabou por paralisar as atividades da Grande Loja, interrupção que durou até 1771.

Em 1771, com o falecimento do conde de Clermont, os maçons que haviam sido excluídos da Ordem conseguem o aval do duque de Luxemburgo para conseguir que o duque de Chartres, primo do rei, aceite assumir o Grão-Mestrado. Em agosto de 1771 o grupo de maçons reintegrados constitui uma comissão para estudar a reforma administrativa da Ordem, a elaboração de novos estatutos e a reorganização dos altos graus. A 24 de dezembro, uma assembléia especialmente convocada para esse fim, declarou extinta a Grande Loja da França e, a 9 de março de 1772, a mesma assembléia declarava criada nova potência, intitulada Grande Loja Nacional da França. Em 22 de outubro do mesmo ano, essa potência reúne-se em Assembléia Geral e resolve intitular-se Grande Oriente da França, o primeiro Grande Oriente do mundo, que introduzia uma maneira nova e racional de administração maçônica, calcada na forma republicana, com tripartição de poderes. A chamada “democracia maçônica” se organizava num poder central, assessorado por um corpo legislativo formado por deputados de todas as lojas. Isso tem sido ao longo dos anos apanágio de todos os Grandes Orientes, um legado do primeiro Grande Oriente, nascido na pátria da Luz, da Cultura e da Liberdade.

Esta transformação radical no âmbito administrativo, protagonizada pelos maçons franceses, fizeram com que a Maçonaria se transformasse de um sistema monárquico e autocrata num sistema republicano e democrático. Foi justamente essa liberdade de pensar que possibilitou ao Grande Oriente da França reunir em suas Lojas uma gama de intelectuais, filósofos, livre-pensadores e os mais diversos representantes do pensamento progressista da época. Até então, os ritos maçônicos obedeciam a um único paradigma, o Paradigma Renascentista, que buscou o resgate dos Clássicos da Antigüidade pagã sem, no entanto, abandonar os princípios cristãos da época, essencialmente teístas, apesar de ter sido utilizado também pelos ritos de orientação deísta que sofreram influências de algumas Ordens Místicas e dos chamados Antigos Mistérios.

O Rito Francês ou Moderno, por sua vez, foi forjado sob outro paradigma, o Iluminista Social, e apesar de deísta em sua origem, é baseado na ciência e na razão, duvidando do que não puder ser racionalmente explicado, colocando, dessa forma, a Fé em antagonismo com a Ciência, ao defender a Liberdade Absoluta de Consciência e a ausência de dogmas. O Rito Moderno, fruto da Maçonaria Francesa, entende que o maçom deve ter a faculdade de pensar livremente. Os padrões do pensamento da Maçonaria Francesa são racionais e científicos, e se prendem à época moderna e ao Humanismo Comteano.

  1. O surgimento do Positivismo e sua influência nos ideais maçônicos

O Positivismo proclama os ideais da República Moderna: Liberdade, Paz e Fraternidade. É também chamado de Religião da Humanidade, por ter a doutrina Humanista como sua principal inspiração. Comte entendia que as Escolas filosóficas de Diderot e Hume, que verdadeiramente caracterizaram o Século XVIII, por serem inovadoras e independentes nos campos religioso e político, seriam as únicas que abraçariam integralmente a doutrina Positiva, que fundamenta o futuro com base no passado, firmando dessa forma as bases da regeneração Ocidental. Hume foi considerado por Comte seu principal precursor filosófico, juntamente com Kant, cuja concepção fundamental foi sistematizada e desenvolvida pelo Positivismo. A Filosofia de Kant, segundo Comte, ligava o Positivismo aos três pais da Filosofia Moderna, Bacon, Descartes e Leibniz. De acordo ainda com Comte, desde o Império Romano que as populações da elite procuravam em vão a religião universal. Comte afirmou que essa Religião Universal — também referendada no artigo 1º da Constituição de Anderson, promulgada pelos maçons da Grande Loja de Londres em 1723 —, não poderia ser alcançada através de nenhuma crença sobrenatural, já que dois monoteísmos incompatíveis aspiravam igualmente essa universalidade. Os esforços opostos de um e outro (judaico-cristãos e mulçumanos) apenas conseguem neutralizar-se mutuamente, fazendo com que semelhante atributo ficasse reservado às doutrinas demonstráveis e discutíveis. Augusto Comte defendia que o Oriente e o Ocidente deveriam procurar fora de toda teologia ou metafísica as bases sistemáticas de uma comunhão intelectual e moral. Essa fusão, para poder estender-se, lenta e gradualmente, à integralidade da Humanidade, deveria ter sua origem em uma doutrina caracterizada pela combinação da realidade com a utilidade.

Os maçons que criaram a Grande Loja de Londres, em 1717, estavam imbuídos desse mesmo espírito universalista de Comte, e o artigo 1º da Constituição original da Grande Loja de Londres reflete perfeitamente esse pensamento. Este artigo é de fundamental importância, pois, além de trazer em seu bojo uma definição concreta e clara do que é ser um Maçom Especulativo, ele nos diz que o pensamento liberal dominava, senão todos, pelo menos a maioria dos fundadores da Grande Loja de Londres. Esses fundadores constituíam obviamente as lideranças de suas lojas, donde se conclui ser esse o pensamento dominante entre os Obreiros das primeiras e legítimas Lojas de Maçons Especulativos.

Transcrevemos a seguir o texto integral do artigo, mantida a tradução o mais próximo possível do sentido original:

“Um Maçom é obrigado, por dever de ofício, a obedecer a lei moral; e se entende corretamente a Arte, ele nunca será um Ateu estúpido nem um Libertino irreligioso, Mas embora, nos tempos antigos, os Maçons tivessem sido obrigados, em cada país, a ser da religião desse país ou dessa nação, qualquer que ela fosse, agora se considera mais adequado obrigá-los somente àquela religião com a qual todos os homens concordam, guardando as suas próprias opiniões para si mesmos; isto é, ser um homem bom e leal ou um homem de honra e de honestidade, quaisquer que sejam as denominações ou crenças que os distingam; em razão disso a Maçonaria tornar-se-á o Centro de União e o meio de conciliar verdadeira amizade entre pessoas que teriam ficado em perpétua distância.”

O artigo reflete um surpreendente e inédito espírito Positivo, afastando as concepções metafísicas individuais, na busca por uma religião “que todos os homens concordam”. Nesse sentido, a Maçonaria prega enfaticamente que a religião oficial e pública da Humanidade deve manter-se nos limites da religião natural, indicados pelas verdades básicas, pacificamente aceitas e comuns a todas as religiões, que são a necessidade de ser bom, sincero e honesto e de combater os crimes e evitar o mal.

Esses ideais humanistas, positivados na Constituição de Anderson e ajudados pela influência cada vez mais presente e marcante da então nova doutrina de Comte, que se espalhava cada vez mais pela França e pelo mundo, mostram-se cada vez mais enraizados na doutrina maçônica, resultando na solene declaração feita por 700 delegados maçons do mundo inteiro por ocasião do anti-concílio de Nápoles, ocorrido em 1870, segundo a qual “o homem deve dirigir seus atos e sua vida exclusivamente de acordo com o parecer de sua própria Razão. A Maçonaria não reconhece outras verdades além das fundadas na Razão e na Ciência e combate, servindo-se somente dos resultados obtidos pela ciência, as superstições e os preconceitos sobre os quais baseiam as igrejas a sua autoridade”. Mais adiante, no mesmo documento, fica expresso que “a Maçonaria reconhece e proclama a liberdade de consciência e o exame livre. Considera a ciência como única base de qualquer crença e conseqüentemente repele todo dogma fundado sobre qualquer revelação”. O mesmo documento, plenamente de acordo com a doutrina de Comte, reivindica “a instrução para todos, gratuita e obrigatória, exclusivamente leiga e neutra em questões religiosas, absolutamente afastada do domínio clerical”. O mesmo anti-concílio proclamou, ainda, que “a mulher deve ser libertada dos laços que a igreja e a legislação opõem ao seu pleno desenvolvimento” e ainda a “necessidade de abolir toda e qualquer igreja oficial, devendo a sociedade, e mormente o Estado, manterem-se oficialmente indiferentes ou neutros perante qualquer religião concreta”. Defendendo que o Estado e os poderes públicos se desvinculem das religiões, podendo legislar sem as levar em conta, livre de toda e qualquer influência clerical ou religiosa.

O Positivismo, por sua vez, entende que a Razão e a Ciência, sozinhas, são frias e afastadas dos sentimentos humanos. A Maçonaria Francesa, juntamente com o Positivismo, entende que uma lei inexorável rege o Universo, segundo a qual a força bruta triunfa na luta incessante pela vida. Contudo, o Homem, por meio da Arte e da Ciência, progride pouco a pouco e acaba por elevar-se até uma concepção mais justa; deseja a elevação do fraco; sonha com a Fraternidade; compreende a Solidariedade e deseja o domínio da Justiça e da Igualdade. Por isso, apesar de ter a Ciência como dogma, o Positivismo tem a Arte como Culto. A Maçonaria Francesa, em total concordância com o Positivismo, prega que a Ciência, através de seus diversos ramos, dá ao Homem o conhecimento da natureza, mas esse conhecimento, sem as Artes, seria praticamente nulo, pois desprovido de emoção. As Artes são a expressão da emoção humana. Nesse ponto específico está a maior similaridade entre essas duas Escolas. A Arte, para ambas as Doutrinas, é um dos mais poderosos meios para a educação dos indivíduos e para o desenvolvimento da coletividade. Estudar as Artes é estudar a Humanidade, pois são o veículo mediante o qual se manifestam as Civilizações, inclusive as já desaparecidas. A Arte foi a primeira manifestação da inteligência humana. Ela dá ao Homem o sentimento e o desejo de ideal. É por meio da Arte que os Homens abrem o coração aos sentimentos mais nobres e generosos. A Arte é condição essencial ao progresso humano, com participação importante na educação das novas gerações.

Outro ponto em comum entre a Maçonaria Francesa e o Positivismo está no culto à memória dos nossos antepassados. A máxima Positivista de que “os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos” nos ensina que nossos antepassados estão sempre presentes em nossas ações do presente. Graças ao legado do passado e aos esforços do presente a Humanidade segue sua marcha rumo à realização do supremo ideal da Solidariedade. Ambas as correntes doutrinárias comungam desse culto aos Benfeitores da Humanidade. O Calendário Positivista, com seus 13 meses, contempla os grandes vultos da História que, com suas ideias e invenções, transformaram o mundo. A Maçonaria Francesa e o Positivismo pregam que os Benfeitores da Humanidade, artistas, filósofos, doutrinadores, inventores, cientistas e estadistas, executaram a obra da Humanidade até o momento, e cabe a nós e a nossos descendentes e sucessores a sua progressiva continuação.

Como se vê, são fortes e consistentes os inúmeros pontos concordantes entre a doutrina Positiva e os princípios defendidos pela Maçonaria Francesa.

  1. A Reforma Doutrinária de 1877

A Maçonaria, até meados do século XIX, exigia, para aceitação de novos membros, a declaração expressa de crença nos dogmas judaico-cristãos, depois relativizados para a crença em um Ser Supremo, expresso na fórmula do Grande Arquiteto do Universo. Influenciada pelos ideais de Comte, a Maçonaria Francesa tirou a última e mais lógica conclusão: não é racionalmente aceitável uma fórmula maçônica afirmativa da existência e da natureza de Deus, uma vez que estamos obrigados a abster-nos de proselitismo religioso, a fim de ser garantido o livre pensar e, por conseqüência, o estabelecimento de uma chamada religião Natural, ou Universal que exalte e divulgue os ideais Humanitários, semelhante à doutrina idealizada por Comte. A única forma de verdadeiramente habilitar a Maçonaria a ser o “Centro de União de homens que, sem ela, viveriam em perpétuo afastamento”, é suprimindo toda e qualquer alusão a um deus teológico e à metafísica, tendo a ciência e a razão como bases. Não por confesso ateísmo, mas por respeito a todas as crenças, religiões e formas de pensamento, sejam elas quais forem e, principalmente, porque a tão almejada comunhão intelectual e moral só seria possível com o afastamento definitivo de todas as influências teológicas e metafísicas.

Visando suprimir esse paradoxo entre o livre pensar e a obrigatoriedade de uma crença em um deus pessoal, o General Mellinet, Grão Mestre do Grande Oriente da França, em julho de 1867, convocou uma Assembleia Geral, da qual fizeram parte 269 delegados, representando 123 Lojas. Essa Assembleia ficou marcada pelos acalorados debates sobre essa questão, considerada vital. Os contrários à manutenção da fórmula do Grande Arquiteto do Universo sustentaram que a Maçonaria deveria dar uma definição de Deus ou não falar nele, pois admitir todos os deuses seria uma negação, já que cada religião professa a sua verdade e a sua salvação. Se alguém resolve adotar uma postura teísta, pode teorizar que o princípio criador é um “Ser Supremo”, mas essa posição não terá respaldo na lógica, na razão ou na experimentação, mas tão somente na fé e Maçonaria não pode ser questão de fé. Afirmaram, ainda, que se a Maçonaria afirmasse alguma idéia sobre Deus, passaria ao estado de igreja. Apesar dos debates e de todas as argumentações, naquela ocasião a tese não obteve aprovação e a fórmula do Grande Arquiteto do Universo foi mantida.

Dez anos mais tarde, em 1877, o Grande Oriente da França decidiu, afinal, suprimir totalmente a velha declaração obrigatória de fé na existência de Deus. A Assembleia Geral concluiu e proclamou que a Maçonaria não é teísta ou deísta, muito menos atéia e sequer positivista e, portanto, deve se posicionar de uma forma respeitosamente neutra, por entender que religião é uma questão de foro íntimo, e por esta causa, não deve ser questionada ou afirmada. A ressalva ao Positivismo foi colocada como forma de negação aos que acusavam a Ordem Maçônica de estar dominada e transformada num braço da Religião da Humanidade, criada por Augusto Comte. Apesar da doutrina de Comte ter influenciado diretamente os membros da Assembléia Geral, a Maçonaria manteve sua independência intelectual, reafirmando sua neutralidade religiosa ao mesmo tempo em que negava quaisquer influências religiosas ou metafísicas.

Foi modificado, então, o Rito Francês ou Moderno, que eliminou de seus rituais todas as orações e alusões a Deus ou ao Grande Arquiteto do Universo, não por uma afirmação ateística, mas em observância aos nossos mais caros princípios, que garantem a liberdade absoluta de consciência, asseguram a busca incessante da Verdade e pregam a tolerância e respeito a todas as crenças e convicções.

De lá para cá o Rito Francês ou Moderno passou a ser o representante do racionalismo na universalidade da Ordem Maçônica. Nossas Lojas são tribunas do livre pensamento, onde os debates são calcados na Razão e na Ciência, sem influências de ordem metafísica, onde temas que não puderem ser comprovados à luz da razão não devem ser levados, por encontrarem-se no campo das crenças, que são de foro íntimo.

Em 2011 houve, em Lisboa e Barcelona, um encontro mundial dos praticantes do Rito Francês ou Moderno, do qual resultou um documento denominado “As Cartas de Lisboa e Barcelona do Rito Francês ou Moderno”, no qual foi reafirmado, mais uma vez, o caráter adogmático e racionalista do Rito e sua forte influência Positivista, como se depreende do trecho abaixo reproduzido do artigo intitulado “ANÁLISIS DE LAS CARTAS DE LISBOA Y BARCELONA DEL RITO FRANCÉS O MODERNO”, publicado na Revista Rito Francês, nº 1:

“En sus grados simbólicos el Rito Francés o Moderno está muy elaborado, pues se fue puliendo en busca de una armonía entre su filosofía laica, racionalista, adogmática y positivista, con elementos tomados de los constructores medievales, de tradiciones y de antiguas iniciaciones, no contradictorios con su filosofía, quedándose con componentes simbólicos y míticos más o menos depurados, y admitiendo distintas versiones rituales para diferentes preferências”. (Guillermo Fuchslocher)[1]

Importante referir que a influência positivista é tão marcante que forma e dá substância à própria filosofia do Rito, juntamente com outros conceitos igualmente essenciais, como o laicismo, o racionalismo e o adogmatismo. É justamente essa filosofia que distingue o Rito Francês ou Moderno dos demais ritos maçônicos. O Positivismo, igualmente laico e racionalista, gravou permanentemente seus conceitos e princípios no Rito Francês ou Moderno, fazendo deste rito o lídimo representante do Racionalismo na Ordem Maçônica.

4 – A Maçonaria Francesa no Brasil e no Rio Grande do Sul

As primeiras lojas fundadas no Brasil eram modernistas, como provam as atas de fundação do Grande Oriente do Brasil. Importante referir que, quando da fundação do Grande Oriente do Brasil, em 1822, o Rito ainda não era conhecido por este nome, e sim como Sistema Maçônico dos 7 Graus do Grande Oriente de França, nome pelo qual foi introduzido no Brasil. A designação de “Moderno” para o Rito Francês somente se popularizou em meados do século XIX, por ser o Rito de fundação da Maçonaria Francesa e também o Rito de fundação da Maçonaria moderna, ou seja, a Maçonaria que passou a ser praticada a partir de 1717.

Os grandes feitos da Maçonaria Brasileira no século XIX são resultado da Maçonaria Moderna, que é por definição, muito mais política do que mística. A Maçonaria, por essa característica do Rito Francês ou Moderno, chegou a ser considerada, no século XIX, no Brasil, como uma espécie de partido político.

 

Dessa forma, o pensamento liberal em matéria religiosa, que se originou dos maçons de Londres em 1717, foi reforçado e aprimorado pelos maçons franceses, continuou firme e pulsante no Brasil. O “Syllabus Maçônico”, publicado no órgão oficial do Grande Oriente do Brasil em maio de 1911 e enviado a todas as lojas, é particularmente expressivo na reafirmação dos princípios da Maçonaria francesa, com a recomendação expressa das seguintes recomendações:

  1. O não reconhecimento de outras verdades além das fundadas na Razão e na Ciência.
  2. O combate às superstições e preconceitos sobre os quais se baseiam as religiões e suas igrejas, servindo-se, para tanto, somente dos resultados obtidos pela ciência.
  3. A não imposição de nenhum dogma além da boa vontade na livre investigação das verdades científicas, morais, políticas e sociais.
  4. A moral da Maçonaria constitui-se do fundo comum de preceitos que ensinam o homem a ser melhor para se tornar mais feliz e que se encontra em todas as religiões e filosofias.

Esses os princípios que nortearam a maçonaria brasileira, nascida sob o signo do Rito Francês ou Moderno, diretamente influenciada pelos ideais Iluministas, pelo pensamento liberal religioso e pela doutrina de Comte, que prioriza a Humanidade em detrimento das idéias metafísicas e teológicas.

O Grande Oriente do Brasil, todavia, fiel ao Universalismo da Ordem Maçônica, consubstanciado na pluralidade de ritos, admite a prática de outras correntes do pensamento maçônico que no decorrer do século XX se fortaleceram e se tornaram absolutamente majoritárias.

 

O Rito Francês ou Moderno, que foi o rito fundador do Grande Oriente do Brasil e, a exemplo do Grande Oriente da França, seu rito oficial, sofreu com essa predominância dos chamados ritos teístas e deístas, fazendo com que se tornasse um rito minoritário no seio da Maçonaria brasileira. Apesar disso, as poucas lojas resistentes nunca abandonaram seus ideais e tornaram-se ilhas dentro de um mar do obscurantismo e conservadorismo da maçonaria inglesa e predominante. Diante dessa predominância, o Rio Grande do Sul, apenas no ano de 2004, teve sua primeira loja francesa, a ARLS Acácia Porto-Alegrense, que tem entre seus princípios fundamentais a Liberdade Absoluta de Consciência, lema que exprime em sua totalidade os ideais dos maçons de Londres de 1717, ideais referendados pela Maçonaria Francesa no decorrer do século XIX. Hoje o Rito Francês ou Moderno experimenta significativo crescimento no Rio Grande do Sul, que conta com duas lojas simbólicas do rito e a breve fundação de mais uma, além de um Capítulo Filosófico das Ordens de Sabedoria, baseando-se, sempre, nos princípios da filosofia positiva, no adogmatismo e na liberdade de pensamento.

[1] Adenda Revista Rito Francês nº 1 – www.ritofrances.net

 

 

L’influence du Positivisme dans la franc-maçonnerie

Arthur Aveline

 

 

  • L’introduction de la maçonnerie en France
  • Naissance du Positivisme et son influence dans les idéaux maçonniques
  • La réforme doctrinaire de 1877
  • La franc-maçonnerie au Brésil et dans le Rio Grande

 

  • Introduction de la maçonnerie en France.

La franc maçonnerie spéculative a été implantée en France à partir de 1725, apportée principalement par des émigrants britanniques exilés pour raisons politiques ou religieuses. Ils apportèrent dans leurs bagages le rituel de 1717, utilisé par la grande Loge de Londres, le Rituel des Modernes, comme il est devenu nommé à partir de 1751, quand fût créer en Angleterre, à York, une nouvelle grande Loge qui s’auto-revendiquait comme Ancienne.

Pendant le XVIIème siècle, l’ordre maçonnique a été, depuis Paris, introduit et développé dans les grandes villes à l’intérieur du pays. La franc-maçonnerie a été dès le début, imprégnée d’un esprit critique et scientifique, en opposition au dogmatisme et à l’obscurantisme de l’époque, en nette discordance avec la maçonnerie des Anciens, alourdie dans l’anglicanisme britannique, qui voit en la maçonnerie comme un culte dédié à préserver et à propager la croyance en l’existence de Dieu, au-delà d’auxilié le maçon à ordonner et régler sa vie en accord avec sa croyance religieuse, qui se doit d’être monothéiste. À partir de 1735, il y avait bon nombre de loges maçonniques en France, faisant naître la nécessité de nommer un Grand-Maître, en débutant le processus de formation d’une puissance maçonnique, selon le modèle anglais, inventé par les maçons londoniens en 1717. En 1738, nait une Assemblée Générale des Maçons, dans laquelle est conférée au duc d’Antin (Louis Pardaillon de Grondin), le titre de « Grand Maitre Général et Perpétuel des Maçons du Royaume de France », se construisant ainsi, naturellement, la Grande Loge de France, bien que cette appellation n’apparaisse officiellement qu’en 1765.

Avec la mort du duc d’Antin en 1743, le comte de Clermont (Louis de Bourbon Condé) assume le Rôle de Grand Maître, ce qui eut d’importantes conséquences pour la franc-maçonnerie, puisque le comte ne s’intéressait que peu aux pratiques maçonniques, nommant à sa place d’autres personnes qui exerçaient le pouvoir et qui conduisit au fractionnement de la Grande Loge Française. En 1766, lors de la traditionnelle commémoration du solstice d’été, le 27 Décembre, certains membres, exclus à cause des querelles internes ont forcer le passage à l’endroit où les travaux se réalisaient, causant une pagaille sans précédent.  L’intervention de la police a été nécessaire pour rétablir l’ordre et les réunions maçonniques ont été interdites pendant un certain temps, ce qui a paralysé les activités de la Grande Loge, ce jusqu’en 1771.

En 1771, avec la mort du Comte de Clermont, les maçons qui avaient été exclus de l’ordre parviennent à obtenir l’aval du duc du Luxembourg pour faire en sorte que le duc de Chartres, premier homme du roi, accepte d’assumer le poste de Grand-Maitre. En Août 1771, le groupe de maçons réintégrés a constitué une commission pour étudier la réforme administrative de l’ordre, l’élaboration de nouveaux statuts et la réorganisation des hauts-placés. Le 24 Décembre, une assemblée spécialement convoquée en vue de cette fin, déclara terminée la Grande Loge française, et, le 9 Mars 1772, la même assemblée déclara fondée la Grande Loge Nationale de France. Le 22 Octobre suivant, ce pouvoir se réunit en Assemblée générale, et décide de s’appeler Grand orient de la France, le premier Grand Orient du Monde, qui introduisait une manière nouvelle et rationnelle de l’administration maçonnique, calquée sur la forme républicaine, avec une tripartition des pouvoirs. La dénommée « démocratie maçonnique » s’organisait alors en un pouvoir central, avec un corps législatif formé par des députés de toutes les Loges. Ceci a été au fil des ans un apanage de tous les Grands Orients, héritage du premier Grand Orient, né dans la patrie des Lumières, de la Culture et de la Liberté.

Cette transformation radicale dans un contexte administratif, mis en lumière par des francs-maçons, a fait que la maçonnerie se transforme d’un système monarchique et autocrate, en un système républicain et démocratique. C’est précisément cette liberté de penser qui offrit la possibilité au Grand orient de France à réunir dans ses loges une série d’intellectuels, de philosophes, de penseurs-libres et de divers représentants de la pensée progressiste de l’époque. Jusqu’alors, les rituels maçonniques obéissaient à un paradigme unique, la paradigme de la Renaissance, qui a cherché la rachat des Classiques de l’Antiquité sans cependant abandonner les principes chrétiens de l’époque, essentiellement théiste, bien qu’ayant été également utilisés par des rituels d’orientation déistes qui ont subi l’influence de certains ordres mystiques et des dénommés Mystères Antiques.

Le Rituel Français ou Moderne, en ce qui le concerne, a été sous un autre paradigme, l’Illuminisme Social, et, bien que déiste à l’origine, est basé sur la science et la raison, doutant de ce qui ne peut être expliqué, mettant ainsi la foi en antagonisme avec les sciences, défendant la liberté absolue  de conscience et l’absence de dogmes. Le Rituel Moderne, fruit de la franc-maçonnerie, entend que le maçon doit avoir la faculté de penser librement. Les modèles de pensée de la franc-maçonnerie sont rationnels et scientifiques, se mélangeant à l’époque moderne et à l’humanisme d’Auguste Conte.

  • Naissance du positivisme et son influence dans les idéaux maçonniques.

Le Positivisme proclame les idéaux de la République Moderne : Liberté, Paix et Fraternité. Il est aussi appelé «  religion de l’humanité », pour avoir une doctrine humaniste comme inspiration principale. Conte comprenait que les écoles philosophiques de Diderot et de Hume, qui caractérisent réellement le XVIIIème siècle, pour être innovatrices et indépendantes sur les champs religieux et politiques, seraient les seules qui adopteraient intégralement la doctrine Positive, qui fondamentalise le futur avec une base du passé, signant ainsi les bases de la Régénération Occidentale. Hume a été considéré par Conte comme son principal précurseur philosophique, avec Kant, dont la conception fondamentale a été systématisée et développée par le positivisme. La philosophie de Kant, selon Conte, liait le positivisme aux trois pères de la philosophie moderne : Bacon, Descartes et Leibniz. En accord avec Conte, les membres de l’élite recherchaient en vain la religion universelle depuis l’Empire Romain. Conte a affirmé que cette religion Universelle,- aussi référencée dans le premier article de la Constitution Anderson, promue par les maçons de la Grande Loge de Londres en 1723-, ne pourrait être atteinte au travers de quelconque croyance surnaturelle, puisque deux monothéismes incompatibles aspiraient également à cette universalité. Les efforts de l’un et de l’autre, ( judéo-chrétiens et musulmans) ne parviennent qu’à peine à se neutraliser mutuellement, faisant qu’un attribut comparable soit réservé à des doctrines démontrables er discutables. Auguste Conte défendait l’idée que l’Orient et l’Occident devraient chercher en dehors de toute théologie ou métaphysique les bases systématiques d’une communion intellectuelle et morale. Cette fusion, pour pouvoir s’étendre, lentement mais graduellement, à l’Humanité toute entière, devrait trouver son origine dans une doctrine caractérisée par la combinaison de la réalité avec l’utilité.

 

Les maçons ayant créé la Grande Loge de Londres en 1717, étaient imbus de ce même esprit d’universalité d’Auguste Conte, et le premier article de la Constitution originelle de la Grande Loge de Londres reflète parfaitement cette pensée. C’est un article d’une importance fondamentale, puisque, au-delà d’apporter une définition concrète et précise de ce qu’est un Maçon spéculatif, il nous apprend que la pensée libérale dominait, peut-être pas l’ensemble, mais la majorité des fondateurs de la Grande Loge de Londres. Ces fondateurs constituent évidement l’orientation de leurs loges, où ils conclurent que cette pensée était, entre les ouvriers des premières et légitimes loges de Maçons spéculatifs, dominante.

Voici à présent le texte intégral de l’article, avec la traduction la plus proche de son sens original :

« Un maçon est obligé, par devoir, d’obéir à la loi morale ; et s’il comprend correctement l’art, jamais il ne sera un athée stupide ni un libertin sans religion. Mais bien que, dans l’ancien temps, les Maçons aient été contraints d’être de la religion de ce pays ou de cette nation, dans chaque pays, tel qu’il fût, il est à présent plus adéquat de considérer qu’il leur est obligé cette religion pour laquelle tout le monde est d’accord, en gardant leur opinions propres pour eux-mêmes ; c’est-à-dire, être un homme bon ou loyal, ou un homme d’honneur et honnête, quelques soient les dominations ou les croyances qui le distinguent ; pour cette raison, la Maçonnerie deviendra le centre de l’Union et le moyen de concilier la vraie amitié entre les personnes qui seraient restées en distance perpétuelle ».

L’article reflète un esprit Positif surprenant et inédit, éloignant les conceptions métaphysiques individuelles, à la recherche d’une religion «où tous les hommes sont d’accord ». En ce sens, la Maçonnerie prêche emphatiquement que la religion officielle et publique de l’humanité doit se maintenir dans les limites de la religion naturelle, mise en évidence par les vérités basiques, acceptées pacifiquement et communes a toutes les religions, qui sont le besoin d’être bon, sincère et honnête, de combattre le crime et d’éviter le mal.

Ces idées humanistes, positivées dans la Constitution d’Anderson et aidées par l’influence toujours plus présente et marquante de la doctrine de Conte, qui s’éparpillaient toujours d’avantage en France et dans le monde, se montrent toujours plus enracinées dans la doctrine maçonnique, terminant dans la déclaration solennelle faites par 700 délégués-maçons du monde entier à l’occasion de l’anti-concile de Naples, en 1870, selon lequel « l’homme doit diriger ses actes et sa vie exclusivement en accord avec sa propre raison. La maçonnerie ne reconnait aucune vérité autres que celles fondées par la Raison et la Science et combat, ne s’aidant que sur des résultats scientifiques, les superstitions et les idées reçues sur  lesquelles les églises basent leur autorité ». Plus loin, dans le même document, il est expliqué que « la Maçonnerie reconnait et proclame la liberté de conscience et le libre-arbitre. Elle considère la science comme la base unique de toute croyance et par conséquent, rejette tout dogme fondé sur une quelconque révélation ». Le même document, en total accord avec la doctrine d’Auguste Conte, revendique « l’instruction pour tous, gratuite et obligatoire, exclusivement laïque et neutres sur les questions religieuses, absolument éloignée du domaine clérical ». Le même anti-concile a proclamé aussi que « la femme doit être libérée des liens que l’église et la législation opposent à son bon développement » et encore à «  à la nécessité d’abolir toute église officielle, la société devant, et par conséquent l’état, se maintenir officiellement indifférents ou neutres face à quelconque religion concrète ». Défendant que l’état et les pouvoirs publics se dénouent des religions, en pouvant légiférer sans les prendre en compte, libre de toute influence clérical ou religieuse.

Le Positivisme, pour sa part, entend que la Raison et la Science, seules, sont froides et éloignées des sentiments humains. La franc-maçonnerie, en accord avec le Positivisme, entend qu’une loi inexorable régisse l’Univers, selon laquelle la force brute triomphe dans la lutte incessante pour la vie. Cependant, l’Homme, grâce à l’Art et aux Sciences, progresse peu à peu et arrive à se hisser à une conception plus juste ; il souhaite l’élévation du faible ; il rêve de fraternité ; il comprend la solidarité et désire la domination de la Justice et de l’Égalité. C’est pour cela que, bien qu’ayant la science pour dogme, le positivisme a l’art pour culte. La franc-maçonnerie, en accord total avec le Positivisme, prêche que la science, grâce à ses diverses branches, donne à l’homme la connaissance de la Nature, mais que cette connaissance, sans l’art, serait quasi nulle, puisque dépourvue d’émotion. L’art est l’expression des émotions humaines. Sur ce point spécifique se trouve la plus grande ressemblance entre ces deux écoles. L’art, pour les deux doctrines, est l’un des moyens les plus puissants pour l’éducation des individus et pour le développement de la collectivité. Étudier les arts, c’est étudier l’Humanité, puisqu’ils sont le moyen par lequel se manifestent les civilisations, même celles disparues. L’art est la première manifestation de l’âme humaine. Elle donne à l’homme le sentiment et le souhait d’idéal. C’est par l’art que l’homme ouvre son cœur aux sentiments les plus nobles et les plus généreux. L’art est la condition essentielle au progrès humain, avec une importance considérable dans l’éducation des nouvelles générations.

L’autre point commun entre la franc-maçonnerie et le Positivisme est dans le culte de nos prédécesseurs. La maxime positiviste qui dit que « les vivants sont toujours et toujours plus gouvernés par les morts » nous apprend que nos ancêtres sont toujours présents dans nos actions. Grâce aux vestiges du passé, et aux efforts du présent, l’Humanité poursuit sa marche vers la réalisation d’un idéal suprême de solidarité. Tous ces courants ont en commun le culte de bienfaiteurs pour l’Humanité. Le calendrier positiviste, avec ses treize mois, contemple les grands tournants de l’histoire, qui avec ses idées et ses inventions, ont transformé les monde. La franc-maçonnerie et le Positivisme prêchent les bienfaiteurs de l’Humanité, artistes, philosophes, enseignants, inventeurs, scientistes et hommes d’état qui ont exécuté l’œuvre de l’Humanité jusqu’à nos jours, et qu’il est à notre tour et à nos descendants et successeurs de perpétuer sa progression.

Comme on peut le voir, les points communs entre la doctrine positiviste et les principes défendus par la franc-maçonnerie sont nombreux.

  • La réforme doctrinaire de 1877.

La maçonnerie, jusqu’à la moitié du XIXème siècle, exigeait la déclaration explicite de croyances pour les dogmes judéo-chrétiens pour accepter de nouveaux membres, relativiser en la croyance d’un être suprême, exprimé dans la formule du Grand Architecte de l’Univers. Influencé par les idées d’A. Conte, la franc-maçonnerie a conclu très logiquement qu’une formule maçonnique affirmative de l’existence et de la nature de Dieu n’était pas rationnellement acceptable, une fois que l’on est obligé de nous abstenir du prosélytisme religieux, et, par conséquent, l’établissement d’une dénommée religion Naturelle ou Universelle qui exalte et diffuse des idéaux humanitaires, comparable à la doctrine d’Auguste Conte. La seule façon de réellement habiliter la Maçonnerie à devenir le «  centre de l’Union des hommes qui, sans elle, vivraient en perpétuel éloignement », est de supprimer toute allusion à un dieu théologique et à la métaphysique, ayant la science et la raison pour bases. Non par confession athéiste, mais pour le respect des croyances, des religions et des formes de pensées, quelles qu’elles soient, et principalement, parce que la si désirée communion intellectuelle et morale ne serait possible qu’avec l’éloignement de toute les influences théologiques et métaphysiques.

En ayant pour but de supprimer le paradoxe entre la libre façon de penser et l’obligation de croyance ne un dieu, le général Mellinet, Grand Maitre du Grand Orient de France, en juillet 1867, a convoqué une assemblée générale, où 269 députés, représentant 123 loges ont pris place. Cette assemblée est restée marquée par des débats houleux sur la question, considérée comme vitale. Les opposants à la manutention de la Formule du Grand Architecte de l’Univers ont soutenu que la maçonnerie devrait donner une définition de Dieu mais ne pas parler de lui, puisqu’admettre tous les dieux serait une négation, étant donné que chaque religion professe sa vérité et sa salvation. Si quelqu’un opte pour une posture théiste, il peut théoriser que le principe fondateur est «  un Être Suprême », mais cette position n’aura pas de réponse dans la logique, dans la raison ou dans l’expérience, mais seulement dans la foi, et il n’est pas question de foi dans la maçonnerie. Ils ont encore déclaré, que si la maçonnerie affirmait une idée sur Dieu, elle passerait au statut d’église. Malgré les débats et les nombreuses argumentations, la thèse ne fut pas approuvée à cette occasion, et la formule du Grand Architecte de l’Univers fut maintenue.

Dix ans plus tard, en 1877, le Grand Orient de France a décidé, finalement, de supprimer totalement la vieille déclaration obligatoire en la foi de l’existence d’un Dieu. L’Assemblée Générale conclu et proclama que la maçonnerie n’était ni théiste ni déiste, encore moins athée ni même positiviste et que du coup, elle doit se positionner sous une forme respectablement neutre, pour comprendre que la religion est une question intime, et que par conséquent, elle ne doit être ni questionnée ni affirmée. La correction du Positivisme a été considérée comme une forme de négation à ceux qui accusait l’Ordre Maçonnique d’être dominée et transformée dans une branche de la Religion de l’Humanité, créée par Auguste Conte. Bien que la doctrine de Conte ait directement influencé les membres de l’Assemblée Générale, la Maçonnerie a conservé son indépendance intellectuelle, en réaffirmant sa neutralité religieuse tout en niant quelconque influence religieuse ou métaphysique.

Le Rituel Français ou Moderne a été donc modifié, et en éliminant de ces rituels toutes oraisons ou allusions à Dieu ou au Grand Architecte de l’Univers, non pas pour une affirmation athéistique, mais en respectant  nos principes les plus chers, qui garantissent une liberté de conscience absolue, assurent la perpétuelle recherche de la Vérité et prêche la tolérance et le respect à toute croyances et convictions.

Ici et là le Rituel Français est devenu le représentant du rationalisme dans l’universalité de l’Ordre Maçonnique. Nos Loges sont des tribunes de la libre pensée, où les débats sont calqués sur la Raison et la Science, sans influences d’ordre métaphysique, où les thèmes qui n’ont pas pu être prouvés à la lumière de la raison ne doivent pas être sous-entendus, puisqu’ils appartiennent au domaine de la croyance, qui sont de l’ordre de l’intimité.

En 2011 il y a eu, à Lisbonne et à Barcelone, une rencontre mondiale entre les pratiquants du Rituel Français ou Moderne, duquel est né le document nommé «  Les cartes de Lisbonne et de Barcelone dans le Rituel Français ou Moderne », dans lequel a été réaffirmé, une fois de plus, le caractère a dogmatique et rationaliste du Rituel et sa forte influence positiviste, comme on peut le voir dans l’extrait suivant reproduit de l’article intitulé «  ANALYSES DES CARTES DE LISBONNE ET DE BARCELONE DU RITUEL FRANÇAIS OU MODERNE », publié dans la revue du Rituel Français, n°1 :

«  En ses degrés symboliques le Rituel Français ou Moderne est très élaboré, en effet il s’est fait en  recherchant une harmonie entre la philosophie laïque, rationaliste, a dogmatique et positiviste, avec des éléments empruntés aux constructeurs médiévaux, de traditions et d’anciennes initiations, non contradictoires avec leur philosophie, se plaignant de composantes symboliques et mythiques plus ou moins épurées et admettant des versions distinctes de rituel pour de différentes préférences ».                    (Guillermo Fuchslocher)[1]

Il importe de préciser que l’influence positiviste et si marquante qu’il forme et donne à la philosophie du Rituel elle-même, avec d’autres concepts essentiels eux aussi, comme la laïcité, le rationalisme et l’a dogmatisme. C’est justement cette philosophie qui distingue le Rituel Français ou Moderne des autres rituels maçonnique. Le Positivisme, également laique et rationaliste, a gravé de façon permanente ses concepts et ses principes dans le Rituel Français ou Moderne, transformant de ce rituel le légitime représentant du Rationalisme de l’Ordre Maçonnique.

  • La Maçonnerie Française au Brésil et au Rio Grande do Sul.

Les premières loges fondées au Brésil étaient modernistes, comme le prouvent les épisodes de la fondation du Grand Orient du Brésil. Il est important de souligner que lorsque sa fondation, en 1822, le Rituel n’était pas encore connu sous cette appellation, mais sous le nom du Système Maçonnique des 7 degrés du Grand Orient de la France, nom sous lequel il est introduit au Brésil. La designation de « Moderne », pour le Rituel Français, ne s’est popularisé seulement qu’au milieu du XIXème siècle, pour être le Rituel de la fondation de la Maçonnerie Française mais aussi comme Rituel de la fondation Maçonnique Moderne, c’est-à-dire, la Maçonnerie qui a été pratiquée à partir de 1717.

Les grands évènements de la Maçonnerie Brésilienne au XIXème siècle sont le résultat de la Maçonnerie Moderne, qui est par définition, bien plus politique que mystique. La Maçonnerie, de par cette caractéristique du Rituel français ou Moderne, est arrivée à être considérée, au XIXème siècle, au Brésil, comme un genre de parti politique.

En ce sens, la pensée libérale en matière religieuse, originaire des maçons de Londres en 1717, a été renforcée et remodelée par les maçons français, et a continué plus ferme et plus pulsante au Brésil. Le « Syllabus Maçonnique », publié dans l’organe officiel du Grand Orient du Brésil en mai 1911 et envoyé à toutes les loges, est particulièrement expressif dans la réaffirmation des principes de la Maçonnerie Française, avec la recommandation concise des points suivants :

  1. La non reconnaissance d’autres vérités au-delà de celles fondées dans la Raison et dans la Science.
  2. Le combat aux superstitions et aux préconcepts sur lesquels se basent les religions et leurs églises, n’utilisant, pourtant, uniquement les résultats obtenus par la science.
  3. La non imposition à quelque dogme que ce soit au-delà de la bonne volonté dans la libre investigation des vérités scientifiques, morales, politiques et sociales.
  4. La morale de la Maçonnerie se constitue d’un fond commun de préceptes qui enseigne à l’homme à devenir meilleur pour devenir plus heureux et qui se rencontre dans toutes les religions et philosophies.

Ces principes ont marqués la maçonnerie brésilienne, née sous le signe du Rituel Français ou Moderne, directement influencée par les idéaux des lumières, par la pensée libérale et par la doctrine de Comte, qui fait passer en priorité l’Humanité au détriment des idées métaphysiques et théologiques.

Le Grand orient du Brésil, toutefois, fidèle à l’universalisme de l’Ordre Maçonnique, décliné en une pluralité de rituels, admet la pratique d’autres courants de la pensée maçonnique qui au fil du XXème siècle se sont fortifiés et sont devenus absolument majoritaires.

Le Rituel Français ou Moderne, qui a été le rituel fondateur du Grand Orient du Brésil, et, à l’exemple du Grand Orient de la France, dans son rituel officiel, a souffert de cette prédominance des dénommés rituels théistes et déistes, en faisant en sorte qu’il devienne un rituel minoritaire au sein de la Maçonnerie brésilienne. Malgré cela, les quelques loges résistantes n’ont jamais abandonné leurs idées et sont devenues des iles dans un océan d’obscurantisme et de conservatisme prédominant de la maçonnerie anglaise. Face à cette prédominance, le Rio Grande do Sul, seulement en 2004, eu sa première loge française, la ARLS Acacia de Porto Alegre, qui a, entre ses principes fondamentaux la Liberté Absolue de Conscience, devise qui exprime dans sa totalité les idéaux des maçons de Londres de 1717, idéaux contresignés par la maçonnerie Française au fil du XIXème siècle. De nos jours, le Rituel Français ou Moderne expérimente une significative croissance au Rio Grande do Sul, qui compte sur deux loges symboliques du rituel, et sur la prochaine fondation d’une de plus, au-delà d’un Chapitre Philosophique des Ordres du savoir, se basant, toujours, sur les principes de la philosophie positive, de l’a-dogmatisme et de la liberté de pensée.

[1] Revue du Rituel Français n°1 –www.ritofrances.net

Deixe um comentário